O segundo semestre de 2020 (o ano que não deve ser nomeado) veio abarrotado de lançamentos. Tudo que era previsto para o começo do ano foi sendo adiado, e adiado, e adiado..

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   (Olha o bichão ai)

A esperança era soltar as coisas no pós-pandemia, contudo a pandemia fez como aqueles gringos que se apaixonam pelo Brasil a primeira vista e veio pra ficar. Assim sendo, os lançamentos acabaram saindo no meio dela mesmo.

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   (Achei a paleta de cores do jogo muito bonita.)

No meio dessa enxurrada de lançamentos (a maioria num preço totalmente impraticável) um em especial me chamou a atenção. Lançado pela Grok, Cryptid foi uma opção com o custo um pouco menos salgado (180 reais +/-) e que explodiu completamente a minha cabeça. O jogo tem uma premissa simples: descobrir onde está o monstro. Para tal, em cada partida montamos um setup diferente com estruturas e um tabuleiro modular e cada jogador recebe uma pista que indica possíveis locais onde o famigerado monstrinho pode estar se escondendo.

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(Cada jogador recebe um livreto desse e um número, representando qual será a sua dica para aquela partida. As combinações são inúmeras) 

Cada jogador tem um kit de peças de madeiras com cubos e discos. Os cubos servem para marcar locais no mapa onde a criatura, segundo a dica daquele jogador, não poderia estar. Os discos marcam lugares onde, sob a mesma premissa anterior, o monstro poderia estar. Somadas, as pistas que os jogadores receberam sempre apontam para um único hexágono do tabuleiro.

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 (Calma, primeira partida é assim mesmo.)

Na sua vez, cada jogador deve escolher uma entre duas ações:

    – Perguntar à algum adversário se o monstro poderia estar em um espaço X do tabuleiro, e nesse caso o adversário responde colocando um cubo ou um disco no local.

    – Tentar encontrar o monstro, nesse caso o jogador ativo coloca um de seus discos no local e os demais devem colocar discos (ou cubo) também no mesmo ponto. Se todos os jogadores colocarem disco no espaço indicado, o monstro foi encontrado.

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(Os jogadores usam o simpático meeple de monstro para mostrar o hexágono sobre o qual querem perguntar) 

Você deve estar pensando nesse momento: “Tá, mas e daí? Parece-me bobo.” Te digo, jovem mancebo, que não é. O grande desafio do jogo é tentar inferir o que os adversários sabem sobre a localização do monstro baseado nos cubos e discos que eles colocam no tabuleiro, e esse é um desafio brilhante!

    Nas primeiras partidas pode parecer meio confuso, mas depois que todos entenderam bem as mecânicas e nuances, cada cubo e cada pergunta são meticulosamente calculados. Os jogadores experientes fazem perguntas tentando descobrir as informações dos adversários e ao mesmo tempo não podem expor demais a própria informação. No fim, o jogo que partiu da premissa de “Onde está o monstro?” vira um grande jogo de espionagem e dedução.

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(Muita informação para analisar)

Outro detalhe que é impossível não reparar é na genialidade do Design do jogo. Em todas as partidas que joguei o jogador novato sempre comentou: “Cara, como esse sujeito conseguiu pensar nisso?”. E é realmente brilhante. Ao final da partida, é muito comum ficarmos tentando encontrar outro hexágono que seria também resposta ao enigma, mas até aqui depois de 14 partidas não encontrei (sim, eu continuo fazendo isso.).

 A rejogabilidade é muito alta. O jogo vem com muitas cartas de setup diferentes e é humanamente impossível decora-las, eu diria que dá pra jogar 100x (ou até mais) tranquilamente. Oficialmente o jogo é para 3 a 5 jogadores, mas existe uma variante para se jogar em duas pessoas. Testamos eu e minha noiva e achamos bem ruim jogar em dois, nessa variante cada um recebe duas dicas em vez de uma. 
     
  Nem tudo nessa vida são flores. Como pontos negativos do jogo eu destacaria dois. O primeiro e mais evidente é que existem dois tons de azul parecidíssimos como peça dos jogadores. Jogando em 5 pessoas foi muito difícil distinguir os dois para tentar encontrar uma linha de raciocínio.

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(Azul e Azul queimado de sol, ai fica complicado…)

O segundo não é um problema do jogo em si, mas da mesa. O jogo só funciona se todos os jogadores entenderam 100% seu funcionamento. Se uma pessoa colocar um cubinho fora do lugar a partida quebra e não haverá resposta para o enigma. Tenha em mente então que será preciso fazer pelo menos uma (potencialmente mais) partida treino antes de começar a jogatina pra valer.

 Para os mais hardcore (como eu) existem algumas cartas do modo avançado, onde é possível receber dicas invertidas que falam onde o monstro não poderia estar em vez do habitual que informa onde ele pode estar. Vale a pena testar esse quando o grupo já está cascudo.

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(Cartas brancas mostram setups de partidas fáceis, cartas com a borda preta, partidas difíceis.)

Como diria o vendedor do carro dos ovos aqui perto de casa “Tá novinho, tá bonito tá barato”. Cryptid me pareceu um bom custo benefício e um jogo brilhante dentre vários lançamentos que tivemos aqui em terras tupiniquins em 2020. Além de bonito, a mecânica da dedução aqui atingiu um patamar que eu ainda não tinha experimentado e é difícil não admirar o trabalho do autor.

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(Se na sua cidade não tem o carro do ovo, trago aqui a imagem deste patrimônio cultural tupiniquim.)

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