“Now the trumpet summons us again – not as a call to bear arms, though arms we need, not as a call to battle, though embattled we are – but a call to bear the burden of a long Twilight Struggle  – John F. Kennedy,  Discurso de Posse,  Janeiro de 1961

Ao final da segunda guerra mundial, o planeta mergulhou num longo período de embate ideológico (e não somente) entre os Estados Unidos e a União Soviética. Durante décadas as duas nações buscaram a todo preço espalhar suas ideologias e ter domínio sobre todo território que fosse possível. Este período de intenso temor, grandes avanços tecnológicos e centenas de teorias da conspiração é conhecido por nós como a Guerra Fria. Embora tenha esse nome o conflito não foi necessariamente frio, muitos embates menores aconteceram por influência das duas superpotências. Esse cenário extremamente complexo é inspiração para grandes obras de literatura, cinema, artes plásticas e também (porque não) de Board Games. Dentre estes é impossível não se lembrar do magistral Twilight Struggle.

Lançado em 2005 pela GMT e no Brasil mais tarde pela Devir, Twilight Struggle é um mergulho profundo nessa história, rico em detalhes e extremamente tenso. No jogo, cada um dos dois jogadores assume o controle de uma das 2 superpotências em questão e entra num longo embate direto com o adversário pelo controle dos países do mundo. 

Mecanicamente, o jogo é um controle de área com gestão de mão. Tudo nele é guiado por cartas ilustradas com manchetes de jornal da época, cada carta representa um acontecimento histórico do período (possivelmente ligados à um dos dois lados) e cada uma delas parece importante demais para ser desprezada. Na sua vez, o jogador deve escolher uma das cartas em sua mão e decidir se quer usá-la como poderio militar/influência ou se deseja ativar o evento nela descrito, e é aí que o jogo brilha. Toda vez que um jogador decide usar uma carta que está ligada à um evento do adversário este evento acontece INEVITAVELMENTE. A decisão gira então em torno de escolher a hora certa de entregar um benefício tão poderoso a seu adversário e isto torna o jogo uma experiência única.

A ambientação é um deleite à parte, cada carta com os recortes e tons de cinza dão a sensação de estar segurando um grande jornal da época e vendo a história sendo contada em cima da mesa de nossas casas. No começo da partida, a URSS é muito mais poderosa que os americanos que precisam se segurar até meados da partida se quiserem ter alguma chance de vencer. Por outro lado, do meio em diante as chances de vitória da URSS só vão diminuindo e ter construído uma base sólida nos primeiros rounds é fator primordial para suportar até o fim do décimo round. Falando em vitórias, há várias maneiras de vencer: Conseguir somar 20 pontos, dominar a Europa numa situação específica ou fazer com que o adversário inicie uma guerra nuclear. De forma geral, descuidar-se de qualquer um desses lados é um problema grave, é necessário estar atento a tudo que acontece na partida.O cuidado e acuidade histórica do jogo é tão grande que o manual conta com quase 20 páginas de contextualização histórica, onde todas as cartas do jogo tem sua história contada de forma resumida. Gorbachev, Clinton, Tarcher, Che, Fidel, Marshall, João Paulo II estão todos lá! O jogo trás até o discurso de posse do Presidente Kennedy na íntegra (discurso no qual foi inspirado o nome do jogo). Todo esse cuidado com a contextualização e mecânicas absurdamente bem amarradas leva o jogador a uma experiência de jogo que 15 anos depois de seu lançamento ainda não está nem perto de ser reproduzida por outro título.

Twilight Struggle se dedicou tanto em contar a nossa história que acabou criando a sua própria.

One thought to “Twilight Struggle”

  • Maiko Carvalho

    Pensar que o jogo tem 15 anos e entrega uma qualidade assim, é demais.
    Ótimo texto.

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